Saúde mental em tempos de pandemia e governo fascista: cuidando de si, salvando vidas e lutando por uma nação justa e humanizada

Texto de Ton Santos – membro da direção colegiada do SINDSERM Teresina

Não é preciso ser nenhuma ou nenhum especialista no campo da Psicologia ou da Psiquiatria para perceber um fato alarmante e que, infelizmente, vem se assolando ano após ano em países tão alicerçados em pilares seculares de injustiças sócio-históricas, culturais e econômicas, em corrupção nas mais diversas esferas dos Poderes, na omissão e no negacionismo de políticos e instituições políticas e nas opressões para com a esmagadora maioria de classes “marginalizadas” da população, como é o caso do Brasil. E qual é este fato? Na verdade, uma conjuntura assustadora de medo, angústia, de falta de esperança, de violências e opressões diárias, de excesso de dúvidas sobre a própria sobrevivência, sobre viver com dignidade, sobre viver de fato, sobre estar saudável e ver seus parentes, amigos e semelhantes nos mais diversos meios sociais dos quais fazemos parte também com vida e saúde, e com condições dignas e inerentes a princípios básicos e constitucionais de garantias enquanto cidadãs e cidadãos.

Estamos diante de um Governo Federal negacionista, despreparado, militarizado, que tratou a maior pandemia até hoje do século XXI, a pandemia da Covid-19, como uma “gripezinha”. Um Governo que preferiu investir seus poucos esforços em ser ignorante acerca das análises, estudos e diretrizes da própria Organização Mundial de Saúde (OMS), de infectologistas, imunologistas, grupos e estudos científicos de renome e, em detrimento disso, preferiu dar voz para indivíduos (empresários, aliados políticos) e grupos paralelos (o tal “Gabinete das Sombras”, por exemplo) que apostavam suas fichas e, entre lives e declarações para viralizar nas mídias socias, defendiam questões absurdas como “tratamento precoce”, “imunidade de rebanho por exposição e infecção ao vírus” e “uso indiscriminado de medicações sem eficácia científica comprovada”, projetando que, como o próprio Presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou em março do ano passado que a previsão do Governo Federal era que o número de mortes provocadas pela pandemia do novo coronavírus no Brasil não superaria a quantidade de óbitos causados pela gripe H1N1, que, segundo o presidente, foram de 800 óbitos (e, aqui, vale ressaltar que estamos mais de um ano após essa “projeção” do Presidente Bolsonaro tendo que lidar com o aterrorizante e lamentável número de mais de 530 mil vidas perdidas por uma doença para a qual já existe vacina (tão ignorada em tratativas e tão ridicularizada pelo próprio presidente Jair Bolsonaro em várias falas públicas), e já existiam anteriormente medidas não farmacológicas, como o uso de máscara e álcool em gel ou 70% e a manutenção do distanciamento social, também alvos de críticas e descredenciamento por parte do governo Bolsonaro. Em alguns casos, até o isolamento restritivo que deveria ter sido aplicado com mais rigor, e não o foi feito e, quando feito, de forma frágil e cedendo a interesses econômicos da classe dominante exploradora da mão de obra de trabalhadoras e trabalhadores.

E, diante do que já foi exposto, estamos diante de uma crise de saúde não apenas na pandemia do coronavírus. Estamos diante de um colapso da saúde mental da população brasileira. E, diferente de como funcionam as teorias bolsonaristas, precisamos lidar com fatos, com algo que ele próprio e seus apoiadores não são acostumados, que são dados sociais e estudos científicos.

Segundo a OMS, o Brasil é o país com mais pessoas ansiosas do mundo. É como se, de cada 100 pessoas que sofrem com distúrbios de ansiedade no planeta, 10 destas pessoas são brasileiras. Já uma pesquisa feita pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) aponta que houve um aumento de 80% nos casos de estresse e ansiedade. No caso da depressão, os números dobraram. Quando o tema é depressão, o Brasil ocupa a vice-liderança nas Américas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.

De acordo com um levantamento inédito do site Consulta Remédios houve um aumento de até 113% na pesquisa de medicamentos ansiolíticos e antidepressivos, destinados ao tratamento de insônia, ansiedade e depressão, comparando os seis meses anteriores à pandemia – de agosto de 2019 a fevereiro de 2020 – com o respectivo período recente, de agosto de 2020 a fevereiro de 2021. Os dados fornecidos pelo Consulta Remédios são relacionados à busca dos usuários por informações desses medicamentos em páginas de bula, por exemplo, visto que a venda destas medicações só pode ser feita com orientação e receita médica.

Pesquisa de 2020 da Fiocruz em parceria com seis universidades brasileiras, por exemplo, já apontava que 40% dos brasileiros relatavam tristeza e depressão e que 50% referiam ansiedade e nervosismo com frequência.

Leo Pinho, presidente da Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme) e ex-presidente do Conselho Nacional de Direitos Humanos, em entrevista ao site Brasil de Fato, disse que “Enquanto eles (membros do Governo Federal) davam recursos públicos para instituições privadas, inclusive dizendo que comunidade terapêutica era serviço essencial, faltou dinheiro público para treinar profissionais no uso de novas tecnologias, não equipou rede psicossocial com boas conexões de internet, não treinou as equipes para isso. Na prática, o que aconteceu? Desassistência. Em especial aos usuários com mais desigualdade social no serviço público. Mas não faltou dinheiro para indústria de leitos de internação e violação de direitos humanos”.

Em entrevista concedida ao Instituto Humanitas Unisinos (IHU) em março deste ano, Pedro Gabriel Godinho Delgado, que é psiquiatra, professor associado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no Instituto de Psiquiatria e Faculdade de Medicina e vice-presidente regional da Associação Mundial de Reabilitação Psicossocial, resume bem a gravidade da relação nefasta Bolsonaro – Pandemia – Saúde Mental ao dizer que “A política de restrição brutal do Estado de bem-estar, de desemprego estrutural e degradação da renda, como praticada pelo governo Bolsonaro-Guedes, com apoio do oligopólio de comunicação social, do setor financeiro e do sistema de justiça, está dirigindo o país para um cenário de miséria, violência e barbárie. A catástrofe da pandemia só vem acelerar tragicamente este itinerário”. O Doutor Pedro Delgado ainda afirma que “estamos diante de uma imensa catástrofe sanitária e social, que produz um sentimento de medo, insegurança e desamparo, pois além das pessoas que sofrem as perdas de amigos e parentes, com a doença em si, com a perda das formas de sustento e desassistência estatal que repercute psicologicamente, ainda há problemas seríssimos na saúde mental de profissionais que estão na linha de frente do combate à pandemia”.

Em resumo, não apenas a tragédia pandêmica ocasionada por um novo coronavírus trouxe consigo o agravamento das doenças e transtornos na saúde mental da população brasileira. A própria conduta negacionista, fascista, retrógada, opressora, repleta de Fake News, discursos de ódio e descabida de um mínimo senso de humanidade do Governo Bolsonaro-Mourão serviu de ambiente proliferador do vírus, das mortes, das infecções, do medo, da angústia, do caos, do pânico, da incerteza, da falta de esperança. O impeachment de Bolsonaro, mais que um clamor por justiça aos mais de 530 mil mortos e outras milhares de pessoas que ainda sofrem, e sofrerão, com sequelas desta terrível doença, é um clamor por restaurar nas mentes e nas vidas da nação um sinal de luz e esperança no final do túnel. O fim da insanidade política bolsonarista é o início da reestruturação da sanidade humanitária no Brasil!

Algumas sugestões de redes de apoio também à saúde mental na internet:

http://www.instagram.com/projeto5min

 

https://www.instagram.com/psicologosdeplantao_

 

https://mapasaudemental.com.br/

 

https://mapasaudemental.com.br/atendimento-online-para-todos-os-publicos/

 

https://sites.google.com/view/grupocreare/

 

https://www.cvv.org.br/